Entenda as diferenças técnicas sobre as máquinas agrícolas utilizadas para implantação das culturas
Qual a diferença entre semeadeiras e plantadeiras?
Você sabe qual a diferença entre semeadora, semeadeira e plantadeira? Existe diferença? Qual o termo técnico correto? Leia este artigo e tire suas dúvidas!
“Semeadeira” e “plantadeira” são termos populares utilizados para diferenciar dois tipos de máquinas agrícolas – que explicarei a seguir – para semeadura, e que por muito tempo, talvez desde o estabelecimento destas máquinas na agricultura brasileira, vem sendo utilizado por agricultores, empresas e pessoas envolvidas com a mecanização agrícola.
Entretanto, a nomenclatura correta (termos técnicos) para estas máquinas é diferente do que é comumente utilizado.
A necessidade de padronização destes termos fez surgir no meio acadêmico, em 2011, um fórum de discussão da área de Máquinas e Mecanização Agrícola com o tema “Terminologia de Máquinas Agrícolas”, inserido na programação do Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola – CONBEA, organizado pela Associação Brasileira de Engenharia Agrícola – SBEA.
A partir deste fórum, que reúne professores e pesquisadores de universidades e institutos de pesquisa de todo o país, foi gerado um documento preliminar com termos associados ao campo de conhecimento em máquinas agrícolas, para ser utilizado como padronização para a área, principalmente em documentos e publicações técnico-científicas.
E o que diz esse documento?
Temos então que máquinas que realizam a implantação de culturas podem ser divididas em três tipos, em função da operação que realizam, descritas a seguir e conforme o documento elaborado pelo fórum. Portanto, para entender a diferença entre estas máquinas, é necessário antes, entender as operações:
- Semeadura: Operação de introdução no solo de sementes de plantas, com vistas ao seu desenvolvimento cultural.
- Plantio: Operação de introdução no solo de partes vegetativas de plantas, como toletes, manivas e tubérculos, com vistas ao seu desenvolvimento cultural.
- Transplantio: Operação de introdução no solo de plantas no estágio inicial [mudas], com vistas ao seu desenvolvimento cultural.
Considerando estas definições, podem ser citados como exemplos de cultura em que a operação é a semeadura: feijão, soja, milho, sorgo, trigo, aveia, etc. Já para operação de plantio, temos como exemplo: cana-de-açúcar, mandioca, batata. Finalmente, a operação de transplantio compreende culturas como: café, eucalipto e outras que utilizam mudas.
São diferenciações simples, mas que determinam a nomenclatura correta de cada máquina, em função da operação que realizam:
- Semeadora: Máquina agrícola que, quando acoplado a um trator agrícola, pode realizar a operação de semeadura.
- Plantadora: Máquina agrícola que, quando acoplada a um trator agrícola, pode realizar a operação de plantio de culturas.
- Transplantadora: Máquina agrícola que, quando acoplada a um trator agrícola, pode realizar a operação de transplantio.
Voltando agora aos termos populares, para explicar de maneira simples e direta, podemos dizer que “semeadeira” é a máquina para semear sementes miúdas, normalmente de culturas de inverno como aveia e trigo, e “plantadeira” a máquina utilizada com sementes graúdas, por exemplo, feijão, soja e milho.
Portanto, podemos deduzir que “semeadeira” e “plantadeira”, considerando as definições técnicas acima comparadas com suas descrições populares, tratam-se da mesma máquina: a semeadora, pois, ambas distribuem sementes.
Mas então, onde está a diferença?
A diferença está na forma de distribuição das sementes. E aí entram mais dois termos técnicos: “fluxo contínuo” e “de precisão”.
Semeadoras de fluxo contínuo dosam as sementes, como o próprio nome define, continuamente no sulco, com dosagem calculada em massa por distância percorrida (kg/m ou g/m). São utilizadas para sementes miúdas.
Já uma semeadora de precisão faz a distribuição de um número pré-determinado de sementes a cada metro de sulco, distribuindo semente a semente em espaços regulares, e por isso o uso do termo “precisão”, que não deve ser confundido com Agricultura de Precisão! Com este tipo de máquina, normalmente são semeadas culturas como feijão, milho e soja.
Assim, associando o nome técnico com o popular, temos que as “semeadeiras” são as semeadoras de fluxo contínuo e as “plantadeiras” são as semeadoras de precisão.
Falando em sementes miúdas e graúdas, certo dia me questionaram: “as máquinas 2 em 1 são uma tendência?”
Estas máquinas, denominadas de Multissemeadoras ou Semeadoras Múltiplas, são aquelas que possuem mecanismos para executar a semeadura tanto em fluxo contínuo como de precisão, realizadas algumas mudanças e/ou adaptações.
Assim, com a mesma máquina é possível semear praticamente todas as culturas de grãos, abrangendo sementes graúdas e miúdas de culturas de inverno e verão. Desta forma, tem-se uma máquina versátil e que pode suprir a necessidade do agricultor ter duas semeadoras, uma de fluxo contínuo e outra de precisão.
A leitura do mercado e situação atual destas máquinas pode-se resumir aos seguintes pontos:
- Configuram-se como solução versátil, principalmente para pequenos produtores;
- Como possuem mais componentes e regulagens, exigem mais treinamento e cuidados por parte do operador e do produtor;
- Já foram mais populares, mas em função da mão-de-obra que demandam para adequação ao trabalho, ficaram em segundo plano;
- Analisando brevemente o portfólio dos fabricantes que oferecem este tipo de máquina no mercado nacional, temos baixa proporção com relação ao total de empresas de máquinas agrícolas. Provavelmente, em função do seu custo mais elevado e maior quantidade de peças, o que demanda mais cuidado por parte do agricultor, a procura por este tipo de máquina seja restrita.
Como tem sido a evolução destas semeadoras?
Ah, sim. Estas máquinas evoluíram muito desde o início da mecanização, isso deve ser destacado!
Analisando o histórico de pesquisas em Sistema Plantio Direto (SPD) envolvendo semeadoras, que começou na década de 1970, com máquinas importadas, nota-se o avanço tecnológico das máquinas, ressaltando-se que grande parte dos modelos de semeadoras do mercado brasileiro são fabricadas por indústrias nacionais a partir de conhecimento e tecnologia autóctones.
Confira a notícia do livro do IAPAR sobre o Plantio Direto no Sul do Brasil
Além de crescerem no tamanho, o incremento tecnológico foi ainda maior, hoje em dia existem no mercado máquinas com mecanismos dosadores de alta precisão, como os pneumáticos, monitores eletrônicos de fluxo de semente e fertilizante, e até aplicação em taxa variável de fertilizante e sementes, considerando os princípios da Agricultura de Precisão.
O mercado brasileiro procura semeadoras equipadas com componentes que possibilitem aumento na produtividade do trabalho, redução de custos, melhoria da qualidade da operação de semeadura e conforto e segurança ao operador.
Nesse sentido, o uso de eletrônica embarcada com sensores para monitoramento do solo e topografia ou sistemas de posicionamento associados ao mapeamento das condições de fertilidade e umidade do solo, possibilitaram o desenvolvimento de sistemas de controle integrados para distribuição de sementes em taxa variada, de acordo com o potencial produtivo da área, inclusive com controle por linha da semeadora.
Outro sistema de controle comercialmente disponível e baseado no uso de GPS visa eliminar a sobreposição das passadas da semeadora em uma área já semeada de modo a reduzir tempos perdidos e manobras.
Analisando este breve cenário, pode-se afirmar com certa segurança, que a evolução das máquinas agrícolas tem caminhado para a automação completa de sua operação e regulagem de seus componentes. Sim, estamos falando de máquinas autônomas, sem necessidade de – intervenção do – operador.
Quais linhas de pesquisa estão sendo estudadas?
A experiência do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR na pesquisa sobre mecanização de semeadura
Apesar dos avanços citados, ainda são necessários estudos e desenvolvimento tecnológico dos componentes de contato solo-palha-ferramenta das semeadoras diretas visando assegurar uma semeadura de alta qualidade, a cobertura total do sulco com palha após a operação e a semeadura em condições de alto volume de palhada sobre a superfície do solo.
O IAPAR está na fase final do desenvolvimento de um sistema de controle composto por dispositivos de sensoriamento, de atuação e de um método de controle lógico com capacidade de atuar automaticamente sobre os parâmetros operacionais dos componentes de aterramento e compactação de semeadoras diretas a partir de informações sobre a variabilidade espacial do solo, adquiridas em tempo real, e visando obter uma semeadura direta de grãos de alta qualidade.
O objetivo é dispor de um equipamento que permita o aperfeiçoamento da semeadura direta assegurando uma alta qualidade de semeadura independentemente da variabilidade das condições do solo e da cobertura vegetal.
Quais têm sido as demandas e situação da semeadura no campo?
Muitos agricultores procuram novas tecnologias e querem melhorar a qualidade de suas lavouras. Porém, a maioria tem desconsiderado recomendações técnicas sem motivo aparente
Infelizmente, alguns agricultores não tem realizado a semeadura em nível, ou seja, desconsideram a declividade do terreno e “plantam morro abaixo”. Há aqueles também que, em função do tamanho de suas máquinas, removem os terraços para aumentar a capacidade operacional. Nestas situações, dificilmente a evolução tecnológica das máquinas conseguirá evitar erosão de solo e água.
Alguns resultados de pesquisas vem demonstrando que esta situação é totalmente desfavorável à qualidade, principalmente em Sistema Plantio Direto.
Pode ser que, em alguns destes casos, e com muita sorte, o clima, as condições no momento da operação e outros fatores que afetam a qualidade da semeadura não demonstrem os resultados negativos que operações nestas condições podem gerar. Porém, bastará apenas uma chuva intensa e a perda será grande.
Por outro lado, alguns agricultores tem demonstrado grande preocupação com a conservação do solo, atentando para reduzir a mobilização de solo e palha no sulco de semeadura.
Temos recebido nos últimos anos na Área de Engenharia Agrícola, várias demandas em busca do modelo de haste sulcadora desenvolvida pelo IAPAR, que recomenda, basicamente, ângulo de ataque da ponteira de 20º e espessura de 2 cm. Este modelo de haste do IAPAR pode ser adaptado à maioria das semeadoras comercialmente disponíveis, apenas com pequenas alterações nas hastes sulcadoras.
As características da haste citadas anteriormente, segundo resultados de pesquisa, permitiram até 40% de redução de demanda de potência dos tratores, com menor mobilização do solo, em profundidade de 12 a 15 cm.
Outra grande preocupação dos produtores, que está mais relacionada com a Agricultura de Precisão, é a demanda por máquinas que operam considerando a variabilidade espacial da lavoura. Com relação à qualidade operacional, outro tema que tem sido demandado é a manutenção da regularidade de distribuição de sementes, tanto na linha como em profundidade.
Pode-se afirmar que a busca do produtor consciente será sempre por máquinas que realizem a operação com melhor qualidade, visando o aumento da produtividade e a redução de perdas e custos.
Em resposta, a pesquisa estará focada em desenvolver máquinas mais eficientes, que poupem os recursos naturais, melhorem as condições de trabalho do agricultor e promovam a segurança alimentar e a qualidade de vida no meio rural.
Concluindo…
Neste artigo sobre máquinas para implantação de culturas você pôde ler que:
- O termo técnico correto para máquinas que introduzem sementes no solo é Semeadora
- Plantadora é a máquina que dosa ou distribui partes vegetativas, de culturas como batata, cana-de-açúcar e mandioca
- Semeadora de precisão não está necessariamente ligada à técnicas de Agricultura de Precisão
- O desenvolvimento tecnológico das máquinas agrícolas aponta para a completa automação de sua operação
- Se o agricultor não estiver atento às tecnologias consagradas para conservação do solo, pouco lhe servirá todo o avanço científico e inovações apresentadas pela pesquisa agrícola
Espero que este artigo tenha lhe ajudado a entender as diferenças entre as máquinas utilizadas para semear, plantar ou transplantar.
Conhecer os termos técnicos corretos é muito importante para que a agricultura continue avançando tecnologicamente no campo.
Somente com conhecimento é que o agricultor terá condições de argumentar, discutir e evoluir.
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